Quando treinamos diariamente, em especial quando se treina para competir, a pior coisa que pode surgir é uma lesão e a poucos momentos de uma prova importante, ainda pior! Felizmente, para mim, não foi uma coisa recorrente, mas recordo-me da enorme sensação de impotência.
Na minha experiência competir sempre foi o que me “moveu”, o que me fazia dar o meu melhor a cada treino. Quando me lesionei a primeira vez, nem sabia bem como me sentir... queria tanto treinar…
Mas a única coisa que podia fazer era ver. E isso sim, deixava-me fula!
Hoje o conhecimento é diferente e a recuperação de maior parte das lesões, se forem tratadas com acompanhamento profissional, são bastante rápidas, mas há coisas impossíveis de evitar e uma delas é a perda de rendimento.
Lembro-me bem quando, a 2 meses do campeonato nacional, fiz uma ruptura de ligamentos no tornozelo - ainda por cima fora do treino.
A primeira coisa que disse foi: “O meu treinador vai-me matar! Eu não quero saber, eu hoje vou ao treino!”. Claramente não foi isso que aconteceu, nem podia por o pé no chão.
Que desastre!
O grande dilema chegava então… Disse aos meus pais que só ia a um médico especialista e fiquei apática quando ele me fez o diagnóstico.
Mágoa, Ressentimento, Culpa e Desilusão, senti tudo ao mesmo tempo.
Mas isso não me travou de ter “tento na língua”. Não tinha passado uma época completa a treinar para uma prova e agora que estava tão perto, ficar de lado. Nem pensar!!! Com toda a prepotência da minha adolescência olhei para o fisioterapeuta e disse: “Eu não quero saber! Faço tudo o que me mandarem, venho cá todos os dias. Eu daqui a um mês tenho de estar a treinar!”. Confesso que não me recordo a 100% da reação do Fisioterapeuta, mas ele foi impecável e cumpriu o que tinha ficado acordado.
Voltar a treinar a tão pouco tempo da prova de certo que foi desafiante e desgastante. Muitas vezes desvalorizamos o trabalho que vamos fazendo ao longo do tempo, mas é nestas situações que o valorizamos e descobrimos que os pormenores afinal não são assim tão insignificantes. Assim que voltei a ter as minhas rodinhas nos pés - ainda com uma tala no pé que tinha de caber dentro do patim, mesmo que isso significasse comprometer a minha circulação e causar-me cãimbras no pé de 5 em 5 minutos - todos os sacrifícios que ia passar dali em diante foram recompensados um mês depois.
Olhando para estes momentos reconheço alguns erros, que hoje em dia era incapaz de repetir. No entanto foram todas estas batalhas que me fizeram valorizar a profissão que tenho hoje. Conhecer o corpo humano e saber como potenciar as suas capacidades/ qualidades, prevenir lesões, ou ajudar alguém a atingir um objetivo são das coisas mais gratificantes que posso alguma vez obter no âmbito profissional.
E em poucas linhas deixo convosco um desabafo… Mal posso esperar pelo próximo!!!
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