O exercício físico como forma de tratamento das lesões nos tendões
O tendão é uma estrutura composta de tecido conjuntivo e cuja função é transmitir a força gerada pelo músculo aos segmentos ósseos, de modo a tornar o movimento possível. Esta estrutura faz parte dos elementos elásticos em série do músculo, o que significa que a sua deformação ocorre apenas quando o músculo contrai (Correia, Mil-Homens & Mendonça, 2015). Quando se sobrecarrega o tendão ou quando o seu nível de actividade diminui significativamente, surge uma tendinopatia (Cook & Purdam, 2009).
Uma tendinopatia é uma lesão de sobrecarga do tendão, com uma origem multifactorial, e cuja principal causa é sujeitarmos o tendão a um stress excessivo (Cook & Purdam, 2009). Os tendões mais afectados por esta lesão são o tendão de Aquiles, o tendão rotuliano, os tendões da coifa dos rotadores e os tendões dos músculos flexores/extensores do carpo (Dean, Dakin, Millar & Carr, 2017). Quando se aborda este tema é muito comum ouvir-se os nomes “tendinite” e “tendinose”, como se fossem duas entidades separadas. No entanto, em 2009 foi desenvolvido um modelo por Cook e Purdam, que sugere que estes conceitos não são duas entidades separadas, mas fazem parte de um espectro de continuidade que se divide em 3 fases (fase reactiva, fase de “dysrepair” do tendão e fase degenerativa), sendo a progressão ou a regressão ao longo desse espectro realizadas ao aumentar ou a reduzir o stress a que o tendão se encontra sujeito.
Sabendo isto é fácil perceber qual o objectivo principal do tratamento: aumentar a capacidade do tendão tolerar carga (Cook & Docking, 2015). No entanto a maior parte dos tratamentos para esta lesão incidem sobretudo na tentativa de diminuição da dor, e não é frequente ver a parte do tratamento em que se fornece ao tendão capacidade de tolerar a carga que lhe está a ser imposta. É muito comum ver tendinopatias a serem tratadas com recurso ao ultra-som, ao TENS, à Kinesio Tape, aos alongamentos passivos e à massagem transversal profunda.
Mas o que nos diz a evidência em relação a estas técnicas?
-Ultra-som: ver https://goo.gl/s9y6rj
-TENS: ver https://goo.gl/FXFkAm
-Kinesio Tape: uma revisão sistemática conduzida em 2014 por Parreira, Costa, Junior, Lopes e Costa chegou à conclusão que este método não apresenta efeitos significativos quer na dor quer na funcionalidade.
-Alongamentos passivos: Como já foi mencionado, quando não existe contracção muscular não estamos a produzir efeitos ao nível do tendão o que quer dizer que os alongamento passivos não têm efeito nesta estrutura (Correia, et al., 2015).
-Massagem Transversal Profunda: foi lançado um estudo há cerca de um mês atrás que concluiu que os Fisioterapeutas portugueses não realizam esta técnica da forma como foi descrita, o que poderá influenciar os resultados obtidos (Chaves, et al. 2017). Além disto, uma revisão sistemática realizada há 3 anos (Lowe, et al., 2014) não conseguiu concluir se esta técnica teria realmente efeito a nível da dor e da funcionalidade em casos de tendinopatia.
Então o que é que se deve fazer?
-Controlo da dor: a evidência sugere que para este objectivo as contracções isométricas são eficazes, assim como evitar posições articulares em que o tendão seja comprimido. Quando a dor estiver resolvida, deve-se realizar uma progressão para exercícios concêntricos e excêntricos
-Treino excêntrico: nos últimos anos tem-se vindo a perceber que um dos melhores tratamentos para as tendinopatias (após a dor estar resolvida) é o treino excêntrico (curiosamente, de acordo com alguns estudos, o treino concêntrico não é eficaz). No entanto, as cargas aplicadas neste tipo de treino são diferentes das cargas aplicadas para se obter hipertrofia muscular. O treino excêntrico direcionado para a tendinopatia deve ser realizado com cargas adaptadas à pessoa e que são definidas consoante a sua tolerância à dor (não devendo ultrapassar o grau 3 na Escala Visual Analógica). Como é óbvio não nos podemos esquecer do princípio da sobrecarga e ir progredindo e aumentado a carga imposta, consoante a tolerância da pessoa vai aumentando (há também que se ter em atenção que estes benefícios foram observados apenas no membro inferior, não exisitindo certezas de que os resultados serão iguais quando se realizado treino excêntrico para o membro superior);
-Ensino do paciente: devemos perceber qual o gesto que está a provocar a sobrecarga mecânica do tendão e tentar arranjar alguma forma de o modificar (sem comprometer a funcionalidade da pessoa ou a performance do atleta) de modo a reduzir o stress imposto ao tendão;
-Quando a dor desaparecer, devemos iniciar um plano de treino de força, bem estruturado, com exercícios funcionais e com cargas que estimulem a produção de colagénio, de modo a aumentar a tolerância dos tendões ao stress exercido pelos músculos (Allison & Purdam, 2009; Cook & Docking, 2015; Cook & Purdam, 2009; Verral, Schoefield & Brustad, 2011; Correia, et al., 2015; Goon, 2013).Para terminar deixo aqui uma nota: tanto nos casos de tendinopatias como de outra lesão do aparelho músculo-esquelético, nunca nos devemos esquecer que os exercícios que aplicamos, quando queremos realizar treino de alguma das variantes da força, devem ser funcionais e globais. Não podemos limitar-nos a treinar o(s) músculo(s) afectado(s), pois a limitação funcional provocada pela lesão implica inactividade para outros grupos musculares (Cook & Docking, 2015).
Referências Bibliográficas
Allison, G. & Purdam, C. (2009). Eccentric loading for Achilles tendinopathy – strengthening or stretching? British Journal of Sports Medicine, 43, 276-279. Chaves, P., Simões, D., Paço, M., Pinho, F., Duarte, J. & Ribeiro, F. (2017). Cyriax's deep friction massage application parameters: Evidence from a cross- sectional study with physiotherapists. Musculoskeletal Science and Practice, 32, 92-97. Cook, J. & Docking, S. (2015). “Rehabilitation will increase the ‘capacity’ of your… insert musculoskeletal tissue here….” Defining ‘tissue capacity’: a core concept for clinicians. British Journal of Sports Medicine, 49(23), 1484-1485. Cook, J. & Purdam, C. (2009). Is tendon pathology a continuum? A pathology model to explain the clinical presentation of load-induced tendinopathy. British Journal of Sports Medicine, 43, 409-416. Dean, B., Dakin, S., Millar, N. & Carr, A. (2017). Review: Emerging concepts in the pathogenesis of tendinopathy. The Surgeon.http://dx.doi.org/10.1016/j.surge.2017.05.005. Estudo à espera de publicação. Goon, T. (2013). Tendinopathy – rehab progression – part 1. The Running Physio: http://www.running-physio.com/tendinopathy1/. Consultado em 30 de Outubro de 2017. Loew, L., Brosseau, L., Tugwell, P., Wells, G., Welch, V., Shea, B., et al. (2014). Deep transverse friction massage for treating lateral elbow or lateral knee tendinitis. Cochrane Database of Systematic Reviews. DOI: 10.1002/14651858.CD003528.pub2 Mil-Homens, P., Correia, P. & Mendonça, G. (2015). Factores Musculares. Treino da força: Princípios Biológicos e Métodos de Treino, 7-20. Parreira, P., Costa, L., Junior, L., Lopes, A. & Costa, L. (2014). Current evidence does not support the use of Kinesio Taping in clinica practice: a systematic review. Journal of Physiotherapy, 60, 31-39. Verral, G., Schoefield, S. & Brustad, T. (2011). Chronic Achilles Tendinopathy Treated With Eccentric Stretching Program. Foot and Ankle International, 32(9), 843-849.
Gostei imenso do artigo referente ao tratamento das tendinites! O exercício é muito importante na recuperação das mesmas!