A Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) é caracterizada por uma obstrução progressiva das vias aéreas, associada a uma resposta inflamatória do aparelho respiratório, com repercussões sistémicas. Atinge um em cada 10 adultos acima dos 40 anos de idade. O diagnóstico é feito através de espirometria, um exame simples que mede o fluxo de ar nos pulmões.
Fatores de risco
Existem vários fatores principais que estão associados ao risco de vir a desenvolver DPOC:
- O tabaco é a principal causa de DPOC (entre 80 a 90% dos casos). Os fumadores ou ex-fumadores (principalmente se fumam ou fumaram 20 ou mais cigarros por dia) estão em maior risco. Cerca de 40-50% dos fumadores ao longo da vida irão desenvolver DPOC, em comparação com 10% das pessoas que nunca fumaram. É claro que, nem todos os fumadores irão desenvolver a doença, o que sugere que a genética também desempenha um papel em tornar algumas pessoas mais suscetíveis do que outras.
- A exposição a gases, poeiras ou produtos químicos poluentes no contexto de uma atividade profissional, assim como a poluição do ar interior devido à utilização de combustíveis de biomassa para cozinhar e para o aquecimento, também é um fator de risco para o desenvolvimento de DPOC.
- História familiar ou fatores genéticos. A constituição dos genes de uma determinada pessoa pode significar que é mais suscetível a desenvolver DPOC. O problema genético relacionado com a DPOC mais investigado é uma doença hereditária que tem na sua base, a falta de uma proteína chamada alfa-1 antitripsina.
As infeções pulmonares na primeira infância e mães fumadoras também são fatores de risco importantes para a DPOC.
Sintomas
A maior parte dos sintomas da DPOC são devidos aos seus efeitos sobre os brônquios, mas ela afeta igualmente os vasos sanguíneos dos pulmões e pode causar sobrecarga sobre o coração. Tem igualmente efeitos negativos sobre a massa muscular, particularmente nos membros.
Habitualmente é diagnosticada com base nos sintomas do doente e na existência de consumo tabágico, no entanto, para estabelecer um diagnóstico preciso de DPOC é necessário demonstrar a existência de estreitamento das vias aéreas e que este não varie muito de dia para dia e em resposta à terapêutica. Para fazer esta demonstração, é necessário a realização de uma espirometria que é uma prova da respiração que mede a quantidade de ar expirado pelos pulmões.
Na DPOC, os sintomas surgem lentamente e pioram de forma gradual e progressiva, sobretudo se o doente continuar a fumar. Estes são, muitas vezes, desvalorizados e aceites como uma consequência natural do tabagismo ou do envelhecimento, o que atrasa o diagnóstico e o início do tratamento.
Os principais sintomas são:
· Tosse crónica;
· Expetoração/escarro ou catarro (pode ser confundido com o "catarro do fumador");
· Pieira;
· Dificuldade em respirar (dispneia) durante o esforço (por exemplo, ao subir escadas);
· Limitação para a realização de tarefas diárias habituais (como vestir-se ou fazer a cama);
· Limitação para o exercício físico;
Embora possa manter-se estável durante algum tempo, a DPOC progride, naturalmente, para estádios cada vez mais graves (A, B, C e D). A doença está associada a várias complicações, entre elas:
· Exacerbações ou crises (agravamento dos sintomas habituais que levam o doente a procurar o médico/hospital e que aceleram a evolução da doença);
· Maior suscetibilidade a infeções (as infeções respiratórias são a principal causa das exacerbações);
· Insuficiência respiratória crónica com necessidade de uso de oxigénio e/ou ventiladores;
· Incapacidade para o trabalho e vida pessoal;
· Morte prematura
Com a evolução da DPOC, os sintomas e as complicações obrigam a grandes mudanças na vida dos doentes, causando muitas vezes (se não, na sua maioria) perda de qualidade de vida. Alguns dos principais impactos são:
· Dificuldade em realizar atividades da vida diária;
· Dependência crescente de outras pessoas;
· Isolamento social;
· Perda de confiança e autoestima;
· Ansiedade e depressão;
· Incapacidade para o trabalho e reforma precoce;
Sendo uma doença crónica, a DPOC tem, muitas vezes, repercussões nos familiares e cuidadores do doente, que podem estar ainda numa fase ativa a nível profissional ou que podem ver os seus planos de vida frustrados, como faltar ao trabalho, reforma antecipada e ansiedade e depressão.
Prevenção e tratamento
O tratamento da DPOC depende dos sintomas e da gravidade da doença. Muitos doentes não necessitam de tratamento crónico, fazendo apenas tratamento nos períodos de exacerbação da doença. Doentes com sintomas regulares necessitam habitualmente de tratamento com inaladores, que reduzem o estreitamento das vias aéreas, relaxando os músculos destas vias. Se a obstrução for grave das vias aéreas e com exacerbações frequentes podem ser tratados com corticosteróides inalados, na tentativa de redução da frequência destas exacerbações, podendo mesmo fazer corticosteróides orais nas exacerbações mais graves. Nas situações mais graves pode, igualmente, ser necessária a utilização de oxigénio, quer por pequenos períodos, durante as exacerbações, quer de forma contínua quando há insuficiência respiratória crónica, sendo necessário, nestes casos, realizar oxigenoterapia pelo menos durante 16 horas por dia.
A Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica não tem cura, mas pode ser prevenida e tratada. O tipo de tratamento depende dos sintomas e da fase da doença, mas os objetivos serão reduzir os sintomas e as crises, para que o doente se mantenha tão ativo quanto possível, e atrasar a evolução natural da doença. As principais medidas terapêuticas são:
· Deixar de fumar – A cessação tabágica é altamente recomendada, sendo a medida com mais capacidade de alterar a história natural da doença.
· Reabilitação respiratória – Inclui treino dos músculos inspiratórios, exercício aeróbio e exercício de reforço muscular.
· Nutrição e estilo de vida adequados – Uma alimentação cuidada e personalizada, bem como a manutenção de um estilo de vida ativo, pode ajudar no atraso da evolução da doença ou na maior adaptação do doente aos sintomas da mesma.
· Exercício físico regular, dentro das limitações impostas pela dificuldade respiratória, mantém a condição física e reduz a incapacidade. Mesmo aqueles doentes que não têm o hábito de praticar qualquer exercício físico beneficiam com a realização de exercícios graduais, particularmente quando estes exercícios estão integrados num programa de reabilitação respiratória.
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