Em tempo de isolamento social, um dos nossos grandes receios foi não conseguir manter o regime das guardas partilhadas. Foi um susto até visualizar o documento oficial que nos dava garantias de poder manter as trocas parentais. Uma das decisões fáceis de tomar foi o de fazer semanas completas, enquanto se mantiver este panorama. Minimizar as
trocas, mas manter o registo.
Quando percebemos que conseguíamos ter os meninos durante uma semana, o nosso coração sossegou.
No entanto, isto trazia-nos um outro desafio: manter 5 crianças, dos 4 aos 11 anos, uma semana fechados em casa, com os 2 adultos em tele-trabalho.
Percebemos que tínhamos de elaborar um plano, sob o perigo de entrarmos todos em colisão, sem bons resultados para ninguém. Por causa das mudanças e do vírus, não
conseguimos ainda instalar o serviço de TV, por isso essa actividade estava fora de questão. Determinámos horários fixos para acordar e para as refeições, do pequeno-almoço ao jantar. Fixámos, também, horários para os trabalhos e actividades da escola.
Pelo meio, inserimos no esquema as tarefas domésticas, em que todos ajudavam e
uma actividade em conjunto escolhida por cada um, em cada dia. Algumas das regras comuns a todos e para todos os dias que implementámos foram: a seguir ao pequeno-almoço todos se vestiam, lavavam dentes e faziam as camas; depois de brincar teriam de arrumar sempre tudo, ou ficaríamos atolados de brinquedos e cangalhada até ao pescoço.
No fim do 1º dia, percebemos, claramente, que aquele esquema não poderia ser tão rígido. Chegou mesmo a ser caótico. Os miúdos precisam de ajuda para fazer as actividades e os trabalhos da escola. Começam atentos e focados e daí a nada estão a dispersar e a brincar uns com os outros ou a fazer asneiras. Fizemos alguns ajustes e tivemos de abdicar de algumas horas de trabalho. Basicamente, um trabalhava de manhã e outro de tarde. Houve 2 dias em que a actividade colectiva não se concretizou e tivemos de a realizar no fim de semana, mas isso não foi um problema. Com as crianças o importante é não faltar à palavra. Se não o fizermos, levamo-los bem.
Diariamente, cada criança tinha uma tarefa doméstica diferente: aspirar o chão; pôr roupa a lavar; estender a roupa; tratar da loiça da máquina; pôr a mesa para as refeições. No dia seguinte, trocavam.
Todos eles colaboraram e ajudaram e foi bem interessante a forma como se dedicavam a fazê-las. Por vezes reclamavam, claro, mas o balanço foi bem positivo e os miúdos são bem capazes. Para mim, foi uma agradável surpresa.
Estava definido, também, a cada dia, que um deles fizesse uma proposta de uma actividade que quisessem desenvolver com os outros todos.
A 1ª foi a Catarina que escolheu fazer aguarelas. Os rapazes mais velhos reclamaram, mas tiveram de gramar. Tiveram sorte de não fazerem maquilhagem e pintura de unhas. Houve 2 dias de actividades ao ar livre com as bicicletas e trotinetas, no jardim das traseiras, onde ninguém passa. Noutro dia houve ténis de mesa, na mesa da cozinha e a última actividade foi um teatro, feito por eles.
Difícil foi cozinhar para esta gente toda, a toda a hora, ou inventar actividades para quando já não tinham nada para fazer, ou ainda, ajudá-los a fazer toneladas de trabalhos de casa, enquanto se trabalhava ao mesmo tempo. Foi uma semana bem dura e exigente. Sim,
tivemos de ser polícias maus muitas vezes, porque os miúdos tentam sempre a sua sorte e desvalorizam muito as regras dos adultos, como se fossem apenas embirrações e cenas de gente crescida. Por outro lado, foi uma semana muito calorosa, construtiva e recompensadora. Demos o nosso melhor e temos a certeza de que eles gostaram muito. Fizeram coisas bem engraçadas e interessantes. Estivemos ao nível daquelas colónias de férias de verão, eu acho. Agora já temos a experiência.
Acredito que a próxima vai ser bem mais eficiente. Na verdade, também nós temos tanto a aprender com eles.
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