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ReViver com os filhos partilhados...

A proposta de uma guarda partilhada aterrorizou-me e neguei-a com todas as minhas convicções. Um projecto que persistiu e não morreu, como eu tanto desejei que tivesse morrido. Aceitei, porque tive de aceitar. Daquelas imposições da vida, que julgamos controlar, mas depois se revelam incontroláveis.


Num gesto de amor puro, deitei a toalha ao chão e anuí. Por vezes, perder batalhas e recuar não é fraqueza, mas antes fortaleza, quando sabemos que não somos nós que estamos em jogo, que não é o que sentimos que importa.


Quando o foco está, totalmente, centrado no melhor para os nossos filhos, então preferimos vergar a partir, livres do orgulho ferido ou de qualquer vergonha.


Vivia com o dogma de que os filhos não vivem bem e felizes sem as mães, acompanhado da crença limitativa de que, também, as mães não conseguem viver sem os filhos. Somos educados nisto pela sociedade, que não é a única culpada. É, igualmente, causador de tamanhas mentiras, o amor animalesco e irracional, com que somos brindadas ao parirmos.

Na minha visão (que é só minha), a qual hoje é uma e já foi outrora outra, este não é um processo fácil, que deve ser humilde e cuidadosamente planeado pelos pais. Ainda continuo a achar que os meus filhos se sentiram arrancados e privados de mim, porque não soubemos explicar-lhes e prepará-los para o que aí vinha. Erro dos pais, que como são adultos, têm a mania que sabem tudo. Porém, não sabemos e só nos fica bem pedir ajuda para aprender a fazer melhor.


Foi um primeiro ano duro, de cortar à faca. Difícil e doloroso, para eles, que não percebiam e viviam contrariados e revoltados com uma realidade que não queriam. Envolto em sangue e lágrimas, para mim, que vivi cada dia de coração trespassado, pela dor que sentiam e pela sua tão sentida ausência. A mais velha demonstrou bem a sua revolta e tivemos dias de loucura. O mais novo, ainda não tinha 2 anos, o que facilitou a digestão do processo.


Veio o tempo, que no desgosto passa lento, e levou o coração, serenamente, ao sítio certo, limpando as feridas até elas sararem. Recorri a aconselhamento parental, por parte de uma psicóloga que foi o nosso anjo. Ajudou assumir a verdade do que tinha acontecido e falar sobre isso em família. Os miúdos não são tontos e prezam muito quando, os pais, aqueles em quem mais confiam, são francos e lhes dizem a verdade. A nossa situação e como tudo aconteceu não é um tabu para a nossa família. Falamos dos intervenientes e dos factos com naturalidade e franqueza, sem ódios, rancores ou questões mal resolvidas. Eles aprendem, com o nosso exemplo, que enfrentar e falar sobre os assuntos é uma excelente forma de resolver problemas.


Não os podemos proteger em bolhas de meias verdades. Ao querer protegê-los estamos a criar imagens e realidades paralelas, que funcionam na nossa cabeça, mas podem não funcionar na cabeça dos nossos filhos. Assim como acontece connosco, também os nossos filhos precisam rasgar de dor para conseguirem curar. Desculpem, mas eles precisam fazer o seu próprio luto, para conseguirem equilibrar. Permitir que o façam é um grande gesto de amor que os pais têm pelos seus filhos.

Favoreceu explicar-lhes, vezes sem conta, que a mãe os ama e sente a sua falta. Digo-lhes, todos os dias, que a mãe os ama muito. Que é louca por eles, quando se portam mal, quando se portam bem, quando vão ou quando vêm. Que não tem mal irem, porque o pai também quer estar com eles, mas que adoro que regressem, porque, então aí, tudo faz sentido. Não os deixo esquecer que, mesmo que estejam longe, o meu amor por eles é infinito.

Facilitou encontrar aquela que tinha ficado perdida e retida no papel de mãe. Somos sempre muito mais do que isso. Às vezes a Catarina pergunta: “Mãe, tu foste quando nós não estávamos?”. Respondo que sim. Nunca minto. Terão de perceber, como eu tive de encaixar que, a mãe, tem uma vida para além dos filhos, porque é uma pessoa independente, como eles são independentes de qualquer outra pessoa.

Impulsionou admitir que tínhamos de nos reconstruir, ganhar novas metas, novas rotinas, novas tradições e formas de pensar. Foi nessa altura que retomei o blog. Percebi que, embora já não fossemos a mesma família, continuávamos a sê-lo, apenas com menos uma pessoa.


Sim, é possível haver felicidade com filhos partilhados, desde que saibamos separar as nossas águas das dos nossos meninos. É essencial, aceitar que somos seres individuais, com necessidades, gostos, dores próprias e diferentes. Hoje, todos já aceitámos a nossa realidade e lidamos muito bem com isso. Administramos mochilas que vão e que vêm, lidamos com formas de estar e de educar diferentes; gerimos pontos de vista e decisões distintas, o que nem sempre é fácil.


O Segredo? Baixar a guarda; deitar fora orgulhos e preconceitos,

porque o mais importante é que os filhos, esses que não pediram para nascer, vivam o mais felizes e equilibrados que consigamos.


Andreia Sécio, do blog Uma familia raríssima

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