Toda a gente sabe que a actividade física é importante e tem imensos benefícios para a saúde. No entanto, a inactividade física é um dos maiores problemas de hoje em dia e geralmente ouvem-se muitas desculpas, tais como “não tenho tempo”, “o meu dia já é cansativo o suficiente”, “está frio”, entre outras, para não se fazer exercício. Há muitos anos atrás isto não teria qualquer problema, porque a actividade física fazia parte do dia-a-dia dos nossos antepassados. O problema é que nos dias de hoje a actividade física deixou de fazer parte do nosso dia-a-dia de forma regular, passando a ser considerada um hobby, e as pessoas ficaram mais sedentárias. Segundo Ding et al. (2017), a inactividade física é a causa principal de mais de 5 milhões de mortes, todos os anos, e tem custos de biliões de dólares para vários países.
Um dos benefícios que a actividade física nos traz é o aumento dos níveis de força, o que, segundo diversos autores, aumenta a longevidade, como iremos ver de seguida:
Volaklis, Halle e Meisinger (2015) realizaram uma revisão da literatura que comparou os níveis de força com a taxa de mortalidade. Os resultados foram os seguintes:
* A actividade física regular reduz os riscos de morte prematura e de aparecimento de hipertensão arterial, doenças das artérias coronárias, diabetes e de alguns tipos de cancro. Além destes benefícios, a actividade física também tem benefícios para a saúde mental;
* A inactividade física provoca 6-10% das mortes relacionadas com a doença das artérias coronárias, com a diabetes tipo II e com o cancro da mama e do cólon;
* Existe um corpo de evidência significativo (e em crescimento) que sugere que a força muscular é inversamente proporcional à taxa de mortalidade, independentemente da causa;
* Em homens, a força é inversamente proporcional à taxa de mortalidade associada a doenças cardiovasculares. No entanto, os estudos que foram realizados com mulheres tiveram resultados conflituosos;
* Alguns estudos também confirmaram que os níveis de força aumentam a longevidade em populações com artrite reumatóide, falência renal, doenças cardiovasculares, arteriais, respiratórias (DPOC) e oncológicas, e em pessoas que se encontram internadas num hospital.
Por sua vez Ortega, Silventoinen, Tynelius e Rasmussen (2012) conduziram um estudo no qual acompanharam, durante 24 anos, 1.142.599 adolescentes suecos, do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 16 e os 19 anos. Os autores verificaram que os adolescentes que apresentavam níveis de força mais elevados (avaliados através da força de preensão, de flexão do cotovelo e de extensão do joelho) tinham menos de 20-30% de probabilidade de se suicidarem e menos 15-65% de probabilidade de desenvolverem doenças psiquiátricas como a esquizofrenia.
Também Ruiz et al (2009) concluíram, após acompanharem 8.677 homens durante um período de 20 anos, que os homens com níveis mais elevados de força (medida através da Repetição Máxima (RM) de Leg Press e Bench Press) tinham menos 39% de probabilidade de morrerem devido a um cancro.
Não existem muitos estudos que fazem esta comparação em mulheres. Porém, um estudo realizado em 2003 por Rantanen et al. concluiu que em mulheres com idades compreendidas entre os 65 e os 101 anos e com doença cardiovascular, os níveis de força são um bom indicador de longevidade.
Como se pode ver, não basta ter uma boa resistência cardio-respiratória para se ser saudável e é importante mantermos bons níveis de força ao longo da nossa vida (especialmente após os 50 anos, visto que a partir desta idade os níveis de força diminuem, em média, 12-15% a cada 10 anos [Santa-Clara e Correia, 2017]).
Por isso do que é que estão à espera? Parem de ler isto, levantem-se e vão fazer exercício!
Autoria: Fisioterapeuta André Romão
Referências Bibliográficas:
* Correia, P. & Santa-Clara, H. (2017). Treino da Força, Volume 2: O Treino de Força no Envelhecimento, 165-178. Cruz Quebrada: Edições FMH.
* Ding, D., et al. (2017). The economic burden of physical inactivity: a systematic review and critical appraisal. British Journal of Sports Medicine, 51(19), 1-19.
* Ortega, F., Silventoinen, K., Tynelius, P. & Rasmussen, F. (2012) Muscular strength in male adolescents and premature death: cohort study of one million participants. British Medical Journal, 345, 1-12.
* Ruiz, J., Sui, X., Lobelo, F., Lee, D., Morrow, J., Jackson, A., et al. (2009). Muscular strength and adiposity as predictors of adulthood cancer mortality in men. Cancer Epidemiology, Biomarkers & Prevention, 18 (5) 1468–1476.
* Rantanen, T., Volpato, S., Ferrucci, L., Heikkinen, E., Fried, L. & Guralnik, J. (2003). Handgrip strength and cause-specific and total mortality in older disabled women: exploring the mechanism. Journal of the American Geriatrics Society, 51 (5), 636–641.
* Volaklis, K., Halle, M. & Meisinger, C. (2015). Muscular strength as a strong predictor of mortality: A narrative review. European Journal of Internal Medicine, 26(5), 303-310.
Commenti