Sim, já sei que devo treinar, mas como?

As palavras confinamento e desconfinamento vão, decerto, marcar este ano.

Não apenas porque não se limitam simplesmente às restrições que nos foram impostas, mas sim porque foi um momento propício para aprender e reaprender algumas rotinas, foi um momento que nos permitiu reinventarmo-nos.

Tivemos de aprender a lidar com menos tempo de atividade e tivemos de aprender a aproveitar o espaço e os recursos que tínhamos à disposição.

Nós fizemos o mesmo: reinventámo-nos, criando uma plataforma com aulas online, porque acreditamos que iríamos ficar a maior parte do tempo parados.

Se tomarmos consciência de que a maior parte das nossas tarefas fora de casa implicam atividade física, tais como:

- descer ou subir escadas

- caminhar até um transporte público ou mesmo até ao nosso carro

- caminhar na nossa hora de almoço

-passear com os filhos ou família,

veremos que tudo isto acumulado resulta num dispêndio calórico que, mesmo sem dar por isso, vamos tendo e que, nesta fase, deixámos de ter...

Por este motivo, treinar diariamente tornou-se ainda mais importante.

Contudo sabemos que nem todos temos o perfil de conseguir manobrar a nossa agenda e conciliar as tarefas do trabalho, as refeições, as crianças a correr de um lado para o outro em casa e ainda arranjar o tempo e espaço apropriado para treinar.

Vejo as aulas online como uma excelente ferramenta para os dias mais stressantes de trabalho em que sair para ir ao ginásio (ou para um treino outdoor), pode não ser possível por existir um compromisso horário.

No entanto, ao treinar em casa existem algumas componentes inerentes ao exercício físico que ficam esquecidas:

Treinar num espaço apropriado para tal – como no ginásio – não é benéfico simplesmente por haver mais material à disposição. No ginásio treinamos sob a supervisão de um profissional qualificado para nos poder ajudar a chegar aos nossos objetivos da forma mais eficaz e ainda nos auxilia na correção técnica dos exercícios permitindo que o treino se torne seguro para nós.

A intensidade é outro dos parâmetros que é desvirtuado quando estamos a treinar sozinhos, pois ninguém disse que treinar era fácil e todos sabemos que aquela última série é a mais complicada e temos de admitir que todos já nos “baldámos” quando sabemos que não está lá mais ninguém para ver.

Mas, para além destes fatores intrínsecos à prática, existem outros fatores como a componente social ou a diferenciação entre o local de descanso/ conforto e o nosso local de treino, que são componentes determinantes para que a rotina de treino seja mantida a longo prazo.

É de extrema importância mantermos o nosso corpo ativo e a ferramenta que escolhemos para treinar – sejam aulas virtuais ou presenciais – devem cingir-se à forma como nos sentimos mais confortáveis, confiantes e que percebemos que se encaixam no nosso dia-a-dia. Somos todos diferentes e a plasticidade do exercício sempre nos permitiu adaptar os exercícios e tipos de treino ao nosso corpo e nossos interesses. Este período só veio reforçar essa excelente capacidade que temos de nos moldarmos face às adversidades. Agora, mais do que nunca, procurem mexer-se, sair de casa e treinar muito. As consequências da inatividade num período grande como este, são muitas, mas só depende de nós trabalhar para as contrariar.

O meu melhor conselho? Porque não procurar a ajuda de um profissional? Não é o que fazem em qualquer outra situação do dia-a-dia?

Rita Machado, instrutora e PT