Num dos episódios da minha série favorita "This is us", houve uma cena de ir às lágrimas (isso comigo é num segundo), em que um pai (adoro aquele pai) descansava a irmã, prestes a ser mãe, sobre esta tão nobre e difícil tarefa da parentalidade, dizendo-lhe que "tudo o que os pais podem fazer é tentar encher o dia de coisas boas e esperar que estas superem as más, esperando que as coisas boas perdurem".
As mães têm uma agravante complicada de gerir, que os pais, por serem homens e descomplicados, na sua grande maioria, não têm:
a necessidade/vontade de serem perfeitas para os seus filhos.
Quando digo perfeitas, não me refiro a criarem uma imagem da "mãe perfeita" na cabecinha dos rebentos, mas sim, de chegar a todo o lado, em qualquer momento, da forma mais perfeita possível, sem falhas. Tratar de tudo, lembrar de tudo, nunca gritar, nunca bater, ouvir sempre, ser sempre zen, estar em todos os momentos de forma disponível, de cabeça fresca e coração leve.
Não há nada mais errado do que isto. A propósito deste tema, perguntavam-me se eu não achava que as mães eram sempre perfeitas, à maneira delas, porque são únicas. Não, não acho. As mães não são perfeitas e serem únicas não lhes dá esse crédito. E ainda bem.
É mesmo urgente dizê-lo aos gritos que AS MÃES NÃO SÃO PERFEITAS, NEM TÊM DE O SER.
Não é porque nos nasce um filho que passamos a ser a perfeição da maternidade. Aliás, é na maternidade que somos mais confrontadas com as nossas limitações e imperfeições.
Gente, é preciso começar a mudar a imagem romântica que se faz da maternidade. Mãe há só uma, é verdade e esse é tema para outro artigo. Porém, ser mãe não é um filme cor-de-rosa. A única coisa boa nisto é o amor: o amor animalesco e transcendental que se gera no nosso peito e o amor que os nossos filhos nos têm. Fora isto, só cansa, desgasta, deprime, isola, consome e derruba.
Sei que nas vossas cabeças paira agora o comentário: "... mas esse amor supera tudo". Pois supera. Eu sei. Basta um beijo ou um abraço das crias e tudo compensa, tudo suportamos de sorriso e coração cheio. Este amor de mãe vale mesmo a pena, mas não é por isso que vamos alimentar as nossas mentes com mentiras, pois não? Assumir ou almejar a perfeição das mães conduz-nos a desilusões e frustrações, que tantas vezes nos deprimem e deitam por terra.
Ser mãe é perder as estribeiras; é esquecer de dar medicamentos;
é fechar os olhos ao extremo cuidado, naquele dia em que estão todos de rastos e fica por dar o banho, ou o soro no nariz ou o que raio for;
é ficar no carro 10 minutos sozinha em busca de calma e silêncio;
é dar fast food para tudo ser mais rápido; é querer ver os miúdos pelas costas por segundos (em alguns casos minutos, ou horas para as mais exaustas).
Ser boa mãe não é chegar à perfeição. Uma boa mãe é esforçada e dedicada; sente amor; reconhece o seu erro e pede perdão por esse; tenta o seu melhor a cada dia, ou quando é possível. Fora isso, tem liberdade e espaço para falhar, sem incorrer em apontar de dedos, nem em flagelações externas ou internas.
Foi no dia em que aceitei que nunca conseguiria ser uma mãe perfeita (porque isso não existe) que a relação com os meus filhos começou a melhorar. Deixei de agir de acordo com o que era esperado pelos outros e passei a actuar segundo o que a minha cabeça e o meu coração consideravam adequado e aplicável às diversas situações, fazendo ouvidos moucos às considerações alheias.
Por favor, ajudem as mães a libertarem culpas mentirosas que carregam, só porque não conseguem tudo de forma perfeita, sem falhas. Ninguém consegue, porque somos humanos.
Digo-vos mais, é com as nossas virtudes e erros
que os nossos filhos aprendem.
Se fossemos perfeitas, isso seria um enorme fardo para as nossas crianças, pois iriam querer igualar-nos, sem sucesso. Muito melhor assim, que aprendem a ser de carne e osso, com coisas boas e coisas más, defeitos e qualidades, como as suas imperfeitas mães.
AS
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